domingo, 31 de maio de 2009

Nos Lendários tempos do Rei Arthur


Este monarca, jovem ainda, foi certa vez surpreendido e preso pelo soberano do reino vizinho enquanto caçava furtivamente em seus bosque. O captor poderia ter matado imediatamente o jovem rei, pois tal era o castigo para aqueles que violavam as leis da propriedade. Porém comoveram-no a puçá idade e a simpatia de Arthur, a quem prometeu o perdão se no prazo de um ano encontrasse uma reposta satisfatória a esta difícil pergunta: O que realmente quer uma mulher.
Semelhante pergunta deixaria perplexo até o homem mais sábio, e ao jovem Arthur pareceu impossível responde-la. Contudo, tentar encontrar a resposta era melhor que morrer enforcado. De modo que regressou a seu reino e começou a interrogar as pessoas. Interrogou a rinha e a princesa, prostitutas e monges, ao sábio e ao bobo da corte. . . em resumo, a todos. Mas ninguém lhe pode dar uma resposta convincente. Porém, todos os aconselharam a consultar a velha bruxa, pois somente ela saberia a resposta. O preço seria alto, já que a velha era famosa em todo o reino pelo preço que cobrava por seus serviços.
Chegou ao último dia do prazo combinado e Arthur não teve alternativa senão consultar a feiticeira. Ela concordou em dar-lhe uma resposta satisfatória com a condição de que Arthur aceitasse o preço: ela queria casar-se com Gawain, o cavaleiro mais nobre da Távola Redonda e o mais íntimo amigo do rei.
O jovem Arthur olhou aterrorizado a feiticeira: era corcunda e feíssima, tinha um só dente, exalava um odor nauseante e fazia ruídos obscenos. Nunca havia topado com criatura tão repugnante. Muito relutou ante a perspectiva de pedir a seu amigo de toda a vida que assumisse por ela esta carga terrível. Não obstante, ao inteirar-se do pacto proposto, Gawain afirmou que cumpri-lo não seria um sacrifício excessivo em troca da vida de seu companheiro e da preservação da Távola Redonda.
Anunciou-se o casamento e a velha bruxa, com sua sabedoria infernal, cumpriu sua parte:O que quer realmente uma mulher? Quer ser soberana de sua própria vida – disse ela.
Todos souberam de imediato que a feiticeira havia expressado uma grande verdade e que o Rei Arthur estaria salvo. Assim foi: ao ouvir a resposta, o monarca vizinho concedeu-lhe o perdão e a liberdade.
Mas, que casamento foi aquele!
A corte em peso assistiu a cerimônia e ninguém se sentiu mais dividido entre o alívio e a angústia que o próprio Arthur.Gawain mostrou-se gentil e respeitoso, como convinha a um cavaleiro da Távola Redonda mesmo naquela circunstância.
A velha bruxa, por sua vez, comportou-se com seus piores modos, engolindo diretamente a comida do prato sem usar talheres, emitindo ruídos e odores espantosos. A corte de Arthur jamais experimentara semelhante clima de tensão, porém os presentes – com exceção da bruxa – mantiveram a cordialidade ao longo da cerimônia e do banquete de casamento.
Coloquemos uma cortina discreta sobre a noite de núpcias e contentemos-nos em mencionar esse fato assombroso.
Quando Gawain, já preparado para ir ao leito nupcial, aguardava que sua esposa se juntasse a ele, ela apareceu-lhe com o aspecto da donzela mais formosa que um homem desejaria ver. Gawain ficou estupefato e perguntou-lhe o que havia acontecido.
A jovem respondeu que, como ele havia sido cortês com ela, retribuiria apresentando-se metade do tempo com seu aspecto horrível e a outra metade com seu aspecto atraente. E perguntou-lhe qual aparência ele preferia para o dia e qual preferia para a noite.
Que pergunta cruel para um homem!
Gawain se apressou em fazer ponderações.
Queria ter durante o dia uma bela jovem para exibir aos seus amigos e durante a noite, na privacidade de sua alcova, uma bruxa espantosa? Ou preferia ter uma bruxa de dia e uma jovem nos momentos de intimidade de sua vida conjugal?
O nobre Gawain respondeu que a deixaria escolher por si mesma o que melhor lhe aprouvesse.
Ao ouvir isso, ela anunciou que seria para ele uma formosa dama durante o dia e também à noite, porque ele a havia respeitado e permitido que fosse a dona de sua própria vida.

Retirado do livro: “ Você, o amor e eu” – Ismael Lago

A Banda


Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor.

A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor.

O homem sério que contava dinheiro parou
O faloreiro, que contava vantagem, parou
A namorada, que contava as estrelas, parou
Pra ver, ouvir e dar passagem.

A moça triste, que vivia calada, sorriu
A rosa triste, que vivia fechada, se abriu
E a meninada toda se assanhou
Pra ver a banda passar
Cantando coisa de amor.

O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou
A moça feia debruçou na janela
Pensando que a banda tocava pra ela.

A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu
A lua cheia, que vivia escondida, surgiu
Minha cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar
Cantando coisa de amor.

Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou.

E cada qual no seu canto
E em cada canto uma dor
Depois que a banda passar
Cantando coisas de amor.



Autor: Chico Buarque de Holanda.

A Arte de Querer



Diversas pessoas se reuniram em volta de um grande sábio e lhe fizeram a seguinte pergunta:
Afinal, do que depende a vida de um homem?
E o sábio respondeu:
A vida de um homem depende da vontade, da personalidade e da sorte.
Mas, em cada pessoa, a importância da cada um desses fatores é diferente.
A vontade é a liberdade de escolher.
A personalidade é a soma das qualidades resultantes da hereditariedade e da educação recebida.
A sorte nada mais é do que o acaso, ou seja, é a combinação acidental dos acontecimentos.
Finalmente o sábio acrescentou:
Nunca se esqueçam de que pela vontade o homem pode formar a sua personalidade e modificar a sua sorte